Brasília se prepara para receber, na próxima terça-feira (25), a Marcha Nacional das Mulheres Negras, que retorna à capital com o lema Reparação e Bem Viver. A mobilização ocorre uma década após a primeira edição, realizada em 2015, quando cerca de 50 mil participantes ocuparam a Esplanada dos Ministérios.
A jornalista e militante Jacira Silva relembra que o ato inaugural foi um marco para o movimento, reunindo mulheres de diversas regiões do país. Segundo as organizadoras, o novo encontro reforça a necessidade de enfrentar o racismo e o sexismo ainda presentes nas estruturas sociais brasileiras.
Dados do Ministério da Igualdade Racial mostram que mulheres negras formam o maior grupo populacional do país, somando 11,3 milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de pardas, o que equivale a 28% da população total. Mesmo assim, continuam entre os grupos mais afetados por desigualdades históricas. Em 2022, a taxa de analfabetismo entre mulheres negras atingiu 6,9%, o dobro da registrada entre mulheres brancas.
As reivindicações incluem a defesa dos povos tradicionais, a preservação ambiental, a reparação histórica pelos impactos da escravização, a garantia de direitos e um modelo econômico sustentável.
Anfitriãs
Em Brasília, coletivos locais se mobilizam há meses para receber delegações de outros estados. Entre eles está a Casa Akotirene Quilombo Urbano, em Ceilândia Norte, que atende cerca de 250 mulheres, além de crianças e adolescentes, oferecendo cursos e atividades culturais.
A presidente da Casa, Joice Marques, destaca que o espaço não existia na época da primeira marcha e celebra a participação atual. Ela relata que atividades preparatórias têm sido feitas em parceria com as organizadoras do Distrito Federal, especialmente na área de saúde mental.
“É uma imensa alegria marchar com as mulheres da Casa Akotirene e de várias regiões do Brasil. É um momento histórico que mostra que estamos falando a mesma língua.”
Para Joice, muitas mulheres da comunidade atuam no enfrentamento ao racismo e à violência a partir de suas próprias realidades, mesmo sem estarem inseridas em debates acadêmicos. Ela ressalta que a experiência cotidiana revela como o racismo impacta territórios, oportunidades e percepções de capacidade intelectual.
A casa e a rua
Na Casa Akotirene, as participantes frequentam cursos de informática, costura, música, práticas corporais e tranças, fortalecendo identidade e autoestima. Joice afirma que o reconhecimento racial se intensifica no espaço público, onde as experiências de discriminação são mais evidentes.
A gestora se vê como continuidade do sonho de seus ancestrais e considera o trabalho com a comunidade sua maior motivação. Na marcha, as mulheres levarão um estandarte coletivo que simboliza os desejos e lutas que as reúnem em busca de reparação e bem viver.






















