Uma pesquisa pioneira conduzida pelo pesquisador Ricardo Scheffer de Andrade Silva, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) , revelou a existência de uma nova doença que ameaça o cogumelo Shimeji no Brasil. O estudo identificou um fungo do gênero Penicillium como o causador do problema, que afeta principalmente os estágios iniciais de desenvolvimento do cogumelo, comprometendo sua produtividade.
O fungo, disseminado por esporos, apresenta sintomas como o abortamento dos primórdios (estágios iniciais do cogumelo), mudança de coloração e atrofiamento. De acordo com Silva, o manejo baseado em limpeza e higienização rigorosa é a principal ferramenta para evitar a contaminação, já que não existem produtos fitossanitários registrados no Brasil para controle de doenças em cogumelos.
“Os produtores recorrem a produtos comuns, como água sanitária e ácidos fracos, que ajudam a controlar o patógeno de forma limitada. Outra alternativa promissora é o uso de bactérias do gênero Bacillus. Porém, mesmo sendo biológica, essa abordagem exige cautela, pois pode impactar negativamente tanto o desenvolvimento do cogumelo quanto a saúde humana”, ressalta Silva.
Além de contaminar o cogumelo, o fungo também pode atingir o substrato, agravando o problema. Como a transmissão ocorre por contato, por meio dos esporos, é essencial adotar práticas rigorosas de biossegurança. Entre as medidas recomendadas estão a higienização adequada das mãos e utensílios, a eliminação de resíduos de cogumelos infectados e a restrição de circulação entre ambientes de cultivo contaminados.
Segundo os estudos do pesquisador, o abortamento representa o estágio final da contaminação. O primeiro sintoma é o surgimento de uma massa cinzenta pulverulenta, que se dispersa com facilidade. Em seguida, ocorre o atrofiamento do primórdio, que apresenta um aspecto enrugado e sofre alteração na coloração, passando de um tom cinza-esbranquiçado para amarelado.
Apoio à cultura
A pesquisa de Silva nasceu de uma vivência prática. Até 2023, o pesquisador também era produtor de cogumelos e enfrentava desafios semelhantes aos relatados por outros produtores da região de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
Na avaliação de Silva, a interação entre a prática no campo e a pesquisa acadêmica é fundamental para aprofundar o conhecimento sobre os patógenos e buscar alternativas de controle.
“Essa conexão entre produtores e pesquisadores é crucial para culturas de baixo impacto econômico, como os cogumelos. Apesar do potencial para gerar renda em pequenas propriedades, a produção enfrenta entraves como a ausência de produtos registrados, a dependência de poucos fornecedores e o baixo consumo cultural no país”, explica.
Outro grande desafio apontado pelo pesquisador é a falta de dados confiáveis sobre a produção nacional, dificultando a avaliação de seu impacto econômico. “Essa falta de rastreabilidade dificulta a formulação de políticas públicas que poderiam fomentar o setor”, complementa Silva.
Apesar das barreiras, ele acredita no potencial da produção de cogumelos como uma alternativa viável de renda, especialmente para pequenas propriedades. “Com políticas de incentivo e a redução dos custos de produção, é possível tornar os cogumelos mais acessíveis ao consumidor, ampliar o mercado e fortalecer a cadeia produtiva”, conclui.
O Sistema FAEP já realizou treinamentos personalizados para produtores de cogumelos, reafirmando seu compromisso com capacitações alinhadas às demandas do setor. “A nova doença traz um alerta para a importância do diálogo entre academia e setor produtivo, reforçando o papel do Sistema FAEP no desenvolvimento sustentável da cultura”, destaca Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino da entidade.