Sistema inédito monitora remotamente a temperatura corporal de bovinos

Fonte: Assessoria

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MT tem pouco mais de 31 milhões de bovinos, confirme campanha estadual realizada entre maio e junho deste ano. (Foto: Eder Pessoa/Indea)

Embrapa Gado de Corte (MS) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ( UFMS ) desenvolveram um sistema inovador de monitoramento de bovinos, capaz de medir a temperatura corporal de forma remota. A tecnologia, que se baseia em um sensor no canal auditivo, é de boa fixação e não machuca o animal, privilegiando o bem-estar e o manejo, ao mesmo tempo em que contribui para aumentar a rastreabilidade da carne, cada vez mais relevante diante de cenários de segurança alimentar e barreiras sanitárias. A patente foi depositada pelas instituições no Instituto Nacional de Propriedade Industrial ( INPI ), sob o número BR 10 2024 021350 5.

O sistema é fruto do trabalho de mestrado em Engenharia da Computação de Arthur Lemos, no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Faculdade de Computação ( Facom-UFMS ), em parceria com a Embrapa. A temperatura do animal foi escolhida como parâmetro porque é um indicativo fisiológico de infecções e inflamações, além de períodos de cio e estresse. A invenção, que funciona com energia solar, sem necessidade de baterias e livre da influência da temperatura do ambiente, permite detectar e evitar prejuízos à saúde dos bovinos, com rapidez e sustentabilidade.

Segundo Lemos, a opção por essa fonte alternativa de alimentação deve à durabilidade do sistema e à baixa necessidade de manutenção. Já a escolha pelo brinco na orelha garante boa fixação, com menos chances de perdas durante o manejo, além de favorecer o bem-estar animal.

Um dos pioneiros em pecuária de precisão no País, Pedro Paulo Pires , pesquisador da Embrapa, reforça o potencial de impacto dessa ferramenta de monitoramento. Segundo ele, a medição manual da temperatura corporal central (TCC) de um mamífero de casco pode apresentar uma série de problemas; entre eles, o custo elevado e o estresse animal.

Por exemplo, caso o estudo empregasse transponders de identificação por radiofrequência (RFID) dotados de sensores de temperatura, teria a exigência de leitores RFID espalhados pela fazenda, o que oneraria os custos de monitoramento. Outra possibilidade, que são as câmeras termográficas, também não é eficiente pela influência do ambiente na medição. “Encontrar um instrumento ideal é um desafio, mas a inovação tem gerado resultados bastante promissores”, complementa.

Parceria resultado em soluções digitais em prol da pecuária brasileira

Lemos e Pires trabalham em cooperação com o professor da Facom-UFMS Fábio Iaione, orientador de Lemos, e com o analista em tecnologia da informação (TI) da Embrapa  Quintino Izidio , que é coorientador do mestrando, em estudos voltados à peculiaridade de precisão.

A parceria Facom-UFMS e Embrapa, nessa pós-graduação, já terminou em quase 50 dissertações concluídas, ao longo de 15 anos, e prova como a comunhão de habilidades em pesquisa aplicada derivada em inovações educacionais.

Os pesquisadores enfatizam que os trabalhos desenvolvidos nesse mestrado profissional em computação aplicada são todos focados em soluções tecnológicas para a pecuária brasileira.

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Dispositivo está pronto para parcerias

O equipamento utiliza conhecimentos de zootecnia, pecuária, veterinária, engenharia e computação. Sua composição se baseia em uma unidade principal e um sensor de temperatura, além de uma base transceptora, que pode estar a até 25 km de distância dos animais monitorados. Isso evidencia que é possível cobrir toda a área por onde circulam.

O professor Iaione explica que a invenção mede periodicamente a temperatura no canal auricular, por meio de um sensor e a geolocalização do animal. “A seguir transmite, por wireless , para um receptor localizado à distância, que está conectado à internet e reenvia os dados para um computador-servidor”, detalha.

Com as informações disponíveis, o produtor terá um sistema de alerta quando um animal apresentar febre, inflamações, estresse térmico e outras condições perigosas.

Pires, que é médico-veterinário, lembra que doenças como a febre aftosa se disseminam rapidamente entre os animais, principalmente, em regiões livres de doença, sem vacinação. Em outras situações, como o estresse térmico, ele afirma que há diminuição na produção de carne e leite, queda na qualidade dos alimentos produzidos e maior incidência de doenças nos animais.

A Embrapa procura parceiros para fabricação do dispositivo em larga escala, facilitando o acesso do produtor rural à inovação. Izidio ratifica que, assim como a pesagem dos animais sem obrigação de ida ao mangueiro, o equipamento facilitará a rotina, tanto na saúde do animal, como na identificação do cio e parto, por meio da variação de temperatura das fêmeas.

Como nasce uma patente

O Manual de Patentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OECD , sigla em inglês) define uma patente como uma forma de proteger as invenções desenvolvidas por empresas e pessoas que podem ser interpretadas como indicadores de invenções. O caminho para registro de uma patente pode parecer burocrático, custoso e dispendioso, mas é vantajoso quando se considera que ele é o reconhecimento não somente da autoria, como também do direito de exclusividade.

Na Embrapa, há instâncias responsáveis ​​por acompanhar esse processo inventivo. A analista  Dayanna Schiavi  relata que uma invenção é patenteável desde que atende aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, obedecendo a critérios legais. Ela e sua equipe, com profissionais da Agência de Internacionalização e de Inovação ( Aginova ), da UFMS, auxiliaram os cientistas da estatal e da universidade no registro da ferramenta de monitoramento, que se enquadram nos quesitos exigidos.

A complexidade do processo, que pode exigir uma consultoria especializada, começa com uma pesquisa para verificar se a tecnologia já existe. Em caso negativo, é cadastrado no INPI, a partir de um formulário de pedido de registro; e conta com acompanhamento posterior. “A patente agrega valor ao ativo, especialmente na fase de negociação junto ao mercado”, ressalta Schiavi.

Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso.