Roda de conversa destaca importância do combate à violência doméstica

Evento foi realizado pela Ouvidoria da Mulher do TRE-MT e contou com cerca de 150 pessoas

Fonte: Assessoria

roda de conversa

Mato Grosso ocupa primeiro lugar no ranking de feminicídios do Brasil, com registro de 46 casos ao longo de 2023, o correspondente a 2,5 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil habitantes, bem maior que a taxa nacional, cuja média foi de 1,4 mulheres. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e foram destacados durante a “Roda de Conversa – Prevenção e Enfrentamento da Violência Doméstica contra Magistradas e Servidoras”, realizada nesta quarta-feira (10.07), pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), por meio da Ouvidoria da Mulher.

Aproximadamente 150 pessoas participaram do evento. Durante a abertura, a presidente do Tribunal, desembargadora Maria Aparecida Ribeiro, ressaltou a importância de promover essas discussões no ambiente institucional. “Temos nos preocupado com essa temática e trabalhado junto a magistrados, magistradas, servidores, servidoras, e público externo também, por meio de campanhas que buscam a conscientização sobre o assunto. Nós temos que estar bem conosco primeiro para conseguirmos desenvolver nossas funções e ninguém vive bem em um ambiente de violência. Agradeço às palestrantes pela disponibilidade, à Ouvidoria da Mulher, que coordenou o evento e a todos e todas que participaram”.

A ouvidora eleitoral do TRE-MT, juíza Suzana Guimarães Ribeiro, traçou um histórico dos avanços dos direitos das mulheres. “Tivemos muitas conquistas e, mesmo assim, temos uma sub-representação das mulheres na política. Apesar de sermos 53% do eleitorado do país, temos apenas 15% de mulheres nas Câmaras dos Deputados, 12% no Senado e 12% nas Prefeituras. E, quando assumem um cargo, ainda temos que lidar com atos de assédio ou violência. Nesse sentido, destaco que o TRE-MT criou a Ouvidoria da Mulher, que visa identificar os tipos de violência, quais as vítimas, ratificar as políticas de prevenção e promover a conscientização e reconhecimento de direitos. É preciso fortalecer uma política feminista antissexista, dialógica, com pessoas de todos os gêneros e de todas as cores. Mais mulheres na política significa mais democracia e, consequentemente, menos violência”, acrescentou.

Representando a vice-presidente e corregedora regional eleitoral do TRE-MT, a diretora da Escola Judiciária Eleitoral (EJE-MT), juíza Ana Cristina Silva Mendes, frisou que a violência é cultural e cíclica. “Antigamente, se dizia que a mulher tinha que dar conta da família, mas tivemos muitas mulheres que fizeram a diferença e lutaram para que a Lei Maria da Penha fosse de fato implementada, por exemplo. São muitas as mulheres, magistradas e promotoras que já sofreram violência, mas este assunto ainda é um tabu. Precisamos desse espaço de fala, pois o momento é de conquista e de dizer não à violência doméstica e familiar contra a mulher”.

O evento também contou com a presença da vice-ouvidora da mulher do Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região (TRT-23), juíza Tatiana de Oliveira Pitombo, representando a presidente do órgão, desembargadora Adenir Alves da Silva Carruesco. “Agradeço a oportunidade de participar e representar a presidente, que salientou a importância deste evento. Estou aqui para ouvir e aprender, e é assim que conseguimos combater a violência doméstica e familiar”, afirmou, destacando que o TRT-23 alcançou a paridade de gênero na composição do Tribunal Pleno.

Tipos de violência

A juíza da 2 Vara de Violência Doméstica e Familiar de Cuiabá, Tatyana Lopes de Araújo Borges, foi a primeira a abordar o assunto, trazendo a trajetória de luta de Maria da Penha, que inspirou a lei de proteção às mulheres que leva seu nome. “Até a aprovação da lei, foi uma trajetória de luta e busca por justiça que durou 19 anos. Temos que compreender que as vítimas não são só as mulheres, mas toda a família é afetada. Não existe apenas a violência física, que é a mais falada porque é visível, há também a violência psicológica, sexual, patrimonial, enfim, são várias formas. É preciso buscar ajuda e conhecer as medidas que podem ser tomadas”.

Para além do ambiente doméstico, a juíza da 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar de Cuiabá, Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, apontou que a violência não é um problema só das mulheres e da família. “A violência doméstica incide sobre 25 a 50% das mulheres na América Latina, e é um problema que afeta o PIB (Produto Interno Bruto) do país, os custos são da ordem de 14,2% do PIB, o que representa US$ 168 bilhões. Um em cada cinco dias de falta ao trabalho de uma mulher é decorrente da violência sofrida em casa e a cada cinco anos de violência doméstica, a mulher perde um ano de expectativa de vida. Além disso, uma mulher agredida por seu companheiro, em geral, recebe salário inferior ao de uma trabalhadora que não é vítima de violência doméstica”, elencou.

Fechando a roda de conversa, a juíza da 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar de Cuiabá, Hanae Yamamura de Oliveira, destacou que a violência doméstica é democrática. “Ela atinge todas as mulheres, de todas as classes sociais, de todas as raças. Pensando nos casos envolvendo magistradas e servidoras, o Tribunal de Justiça (TJMT) criou um Núcleo de Atendimento, por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher, que leva o nome da ex-servidora Thays Machado, que foi vítima de feminicídio recentemente. É um espaço de acolhimento e acompanhamento exclusivo, que já atendeu, só no primeiro semestre deste ano, 96 mulheres que atuam no Judiciário de Mato Grosso”.

Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso.