Muitas vezes, ao observar o oceano caminhando pela praia, refleti sobre a vida e as inúmeras oportunidades que ela nos oferece. Uma dessas reflexões me levou ao universo corporativo, ao imaginário do jovem analista de uma grande empresa, e a uma ideia poderosa: a Teoria do Oceano Azul. Assim como o mar, a carreira desse profissional está repleta de desafios e, às vezes, turbulências, mas, em outras ocasiões, de calmaria e claridade.
Para aqueles menos familiarizados, a Teoria do Oceano Azul propõe aproveitar espaços de mercado inexplorados, em vez de competir em espaços saturados – estes últimos são os chamados “Oceanos Vermelhos”, onde a competição é acirrada e frequentemente sanguinária. O Oceano Azul, em contraste, é vasto, profundo e sem concorrência. Mas como essa teoria pode ser aplicada à carreira de um analista?
Comecemos pela natureza do trabalho desse jovem profissional. O analista é frequentemente envolvido em uma miríade de tarefas, mergulhado em dados, relatórios e reuniões. Está em uma posição que exige precisão, agilidade e capacidade analítica. No entanto, em empresas maiores, pode-se sentir como apenas mais um peixe em um vasto oceano, competindo por reconhecimento, promoções e oportunidades.
Aqui, imagino esse jovem se perguntando: “Como posso fazer diferente? Como posso me destacar e criar um caminho único para mim?”. A resposta, meus caros, pode estar em olhar para a carreira por meio das lentes da estratégia do Oceano Azul.
Oceano Azul na carreira
Ao invés de competir pelos mesmos cargos e projetos que todos os outros, por que não criar novos espaços, novas abordagens?
Por exemplo, um analista pode identificar uma área em sua empresa que está sendo negligenciada, mas que tem potencial para gerar valor. Em vez de esperar que alguém o designe para esse projeto, ele poderia tomar a iniciativa de elaborar um plano, apresentar aos superiores e liderar essa nova empreitada. Assim, ele não estaria apenas fazendo o que é esperado, mas também se diferenciando, navegando por águas até então desconhecidas.
Lembro quando decidi comercializar a Certificação Lean Seis Sigma com 40 horas para pessoas com menos recursos e tempo para se dedicarem ao estudo. Todos, na época, procuravam alongar as formações em busca de tickets mais altos. Fui à outra ponta, com cursos menores e mais baratos. Foi um oceano azul que, depois, tornou-se vermelho. No início, naveguei sozinho e consegui estabelecer a empresa.
Mas, é claro, navegar pelo Oceano Azul não é uma tarefa simples. Assim como o mar, ele é incerto e, às vezes, assustador. Requer coragem, visão e perseverança. O analista terá que estar disposto a assumir riscos, a defender suas ideias, a aprender com seus erros e, acima de tudo, a persistir.
Ao olhar para o horizonte, é fácil ficar intimidado pela vastidão do desconhecido. No entanto, se tivermos a coragem de mergulhar, de explorar e de inovar, as possibilidades são infinitas. A Teoria do Oceano Azul não é apenas uma estratégia de negócios; é uma filosofia de vida, uma forma de abordar desafios com uma mentalidade aberta e criativa.
Então, jovem analista, ao planejar sua carreira, lembre-se de que os mares já navegados podem ser confortáveis, mas é no desconhecido que as verdadeiras oportunidades se escondem. Não tenha medo de se lançar, de buscar novas perspectivas, de desafiar o status quo. Em um mundo em constante mudança, aqueles que têm a coragem de inovar, de buscar o Oceano Azul, serão os que realmente farão a diferença.
Quem sabe, ao olhar para trás, após anos de uma carreira bem-sucedida, esse analista poderá dizer que não apenas navegou pelos oceanos da vida, mas que também descobriu e criou seus próprios mares azuis. E, ao fazer isso, pode ter se tornado não apenas um profissional de sucesso, mas também um verdadeiro pioneiro em sua área.
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.