O primeiro registro de análise de solo no Brasil é datado do ano de 1889, publicado no relatório da Estação Agronômica de Campinas, que futuramente daria origem ao IAC (Instituto Agronômico). O imperador Dom Pedro II, visando melhorar a produção de café – que na época era a principal cultura no Brasil -, contratou o austríaco Dr. Franz W. Dafert para fundar o instituto agronômico.
Mais de 130 anos depois e com diversas evoluções, as análises de solo trazem imensos benefícios para a agricultura moderna em relação ao preço pago pelos produtores por esse serviço, permitindo o diagnóstico mais assertivo das deficiências nutricionais do solo, que podem ser corrigidas com uso de corretivos e fertilizantes minerais. Essa percepção de agregação de valor se traduz na alta da demanda por análises de solos no Brasil: o número passou de 20 mil anuais no início da década de 60 para mais de 1 milhão no ano de 2001 e a 3 milhões em 2021.
Em Mato Grosso, a análise de solos é um instrumento essencial para a produtividade. Os solos do Estado são pobres em cálcio (Ca) e magnésio (Mg), ácidos e tóxicos em alumínio (Al), o que acarreta baixas produtividades, se não forem corrigidos. Para tal correção usa-se o calcário, sempre de olho na análise de solo e no balanço de nutrientes.
À luz da ciência, estudos mostram os benefícios da calagem para a soja. Tivemos a oportunidade de liderar um desses trabalhos, com a premissa de romper o mito/medo que os agricultores tinham da aplicação de doses de calcário acima de 2,5 toneladas por hectare em superfície. Para a elaboração do estudo, foi utilizada a coleção de resultados de análises de solo cedidas pelo Laboratório Solos & Plantas, com 363.646 resultados, que continham informações das características físicas e químicas dos solos coletados em lavouras comerciais de Mato Grosso, em sua maioria, e algumas amostras dos Estados de Rondônia, Pará e Goiás, entre os anos de 2016 e 2021.
Entre outros resultados obtidos, nos chama a atenção a performance de pH nas amostras. O pH consiste numa escala de medição da acidez e alcalinidade do solo e revela a concentração de íons H+, que têm influência na disponibilidade de nutrientes para as plantas. Percebemos que até 2019, a classe de valores médios de pH (5,5 a 6,0) dominava no conjunto total de amostras. Em 2020 há inversão, com domínio para a classe de pH adequado (6,1 a 7,0), com média da leitura em 6,32. Isso significa um valor adequado para o desenvolvimento das culturas, mostrando o impacto do maior consumo de calcário em Mato Grosso.
Percebe-se, de fato, um aumento da preocupação dos produtores em relação à calagem, visto que o pH de grande parte das amostras que chegaram ao laboratório para análise estava abrangendo classes maiores nos últimos anos (solos mais equilibrados no quesito acidez). O avanço em outro indicador químico importantíssimo à agricultura também se manifesta, quando olhamos para avanços no chamado V%, o percentual de saturação por bases, que aponta os níveis de fertilidade do solo.
Junto a esses importantes indicativos, o cálcio (Ca) do solo, por sua vez, desponta no estudo com tendência a níveis mais altos no intervalo observado, mostra de que o consumo de calcário possivelmente mais rico em cálcio teve aumento a partir dos anos de 2016 e 2017 em Mato Grosso. Em suma, pH, V% e cálcio mais favoráveis à semeadura e desenvolvimento da soja têm relação direta e contribuem, certamente, para as melhores produtividades registradas ano a ano no Estado, junto a outros fatores como manejo mais adequado, condições climáticas e incorporação de outras tecnologias pelos produtores.
No momento em que uma nova safra se inicia, é com satisfação que nós, pesquisadores, olhamos para resultados como esses e seguimos a dar nossa contribuição em formação de profissionais e orientação científica à sociedade. Assistir a esse movimento positivo do agricultor mato-grossense por mais incorporação de calcário e mais produtividade é semeadura de progresso em solo rico em conhecimento.