Pesquisadores da Embrapa e do International Asian Soybean Rust Genome Consortium anunciaram o sequenciamento e montagem do genoma de três amostras do fungo P. pachyrhizi, causador da ferrugem asiática da soja. O estudo fornece pistas sobre uma das características mais desafiadoras do microrganismo: sua alta variabilidade, que o faz se adaptar rapidamente e contornar diferentes medidas de controle. O conhecimento detalhado sobre o funcionamento do genoma é fundamental para entender os fatores que estão envolvidos em sua adaptabilidade e contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de controle.
Com base no genoma, descobriu-se que cerca de 93% é composto por sequências repetitivas de DNA chamadas transposons, fragmentos de DNA que podem ‘pular’ ou mudar de lugar no genoma, o que pode contribuir para sua alta variabilidade. Alguns desses transposons se tornam ativos no fungo e saltam no genoma durante uma infecção, principalmente nas primeiras horas de contato com o hospedeiro. O conhecimento dos processos e elementos-chave envolvidos no parasitismo é essencial para desenvolver plantas hospedeiras menos atraentes ou mais tolerantes ao fungo.
As estratégias de manejo estão centradas em práticas como a pausa sanitária, período em que o campo fica sem plantas vivas de soja por pelo menos 90 dias. A prática reduz os inóculos fúngicos. Além disso, outras estratégias de evasão da doença são: uso de cultivares de ciclo precoce e semeadura no início da época recomendada; a adoção de cultivares resistentes; observância do calendário de semeadura; e o uso de fungicidas.
O estudo também identificou o conjunto completo de efetores do fungo, compartilhado pelas três amostras do fungo, incluindo aquelas que estavam ativas ou expressas nos momentos cruciais da infecção. Alguns desses efetores foram caracterizados pela Embrapa Soja, mostrando sua ação ou ataque contra o hospedeiro durante o parasitismo. Entender as estratégias de ataque do patógeno é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de controle.
A análise do genoma também revelou um alto nível de diferenças (heterozigosidade) entre os dois núcleos que constituem o genoma do fungo. Essa característica indica ausência de recombinação entre eles, favorecendo a propagação ou reprodução assexuada do fungo na América do Sul. O conhecimento dos processos e elementos-chave envolvidos no parasitismo é essencial para desenvolver plantas hospedeiras menos atraentes ou mais tolerantes ao fungo.
A ferrugem asiática da soja é um dos principais desafios fitossanitários da cultura, pois o fungo pode se adaptar às estratégias de controle, seja perdendo a sensibilidade a fungicidas, seja “quebrando” a resistência genética presente nas cultivares de soja.