Foi a antropóloga e bióloga Donna Haraway quem disse, na década de 1980, que os seres humanos estão cada vez mais próximos das tecnologias e que as máquinas já são parte do corpo humano. É válido notar que ela disse isso quando ainda não tínhamos smartphones e computadores portáteis, por exemplo.
Da década de 1980 para cá muita coisa mudou, mas parece que o diagnóstico de Haraway estava mesmo correto: os seres humanos estão cada vez mais híbridos, mais próximos das máquinas, e com maior dependência das tecnologias.
Se hoje em dia é praticamente impossível receber notificação no smartphone sem verificar o celular ou o smartwatch, por exemplo, também estão cada vez mais claros os impactos negativos do uso indiscriminado de equipamentos tecnológicos no dia a dia.
Uma das situações mais críticas é com relação ao trânsito: muitas pessoas, sejam elas motoristas ou pedestres, não conseguem se desligar dos smartphones. Esse comportamento, que parece inofensivo, está intimamente ligado ao aumento do número de acidentes de trânsito, por exemplo.
Usar celular no trânsito pode ser fatal
Geralmente, quem tem o hábito de checar as redes sociais ou as notícias no celular quando está no trânsito acha exagero dizer que esse comportamento pode ser fatal e que, no limite, tem relação com o aumento do número de mortes no trânsito.
Mas, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), esse hábito de olhar o celular quando se está no trânsito é tão fatal que pode ser considerado a terceira principal causa de morte no Brasil.
Falta de atenção é segunda causa de mortes no trânsito brasileiro
Segundo uma pesquisa de 2018, realizada pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação, são duas as principais causas de morte nas estradas federais do país. A primeira delas é o desrespeito às normas e leis de trânsito, como estar em velocidade acima do permitido, realizar ultrapassagens proibidas, ou fazer uso de álcool e depois dirigir.
A segunda principal causa de morte está associada, justamente, à falta de atenção ao volante. A pesquisa realizada pelo órgão federal indica como falta de atenção, principalmente, a direção com sonolência, mas é possível indicar que o uso dos celulares também ajuda nesse déficit de concentração.
Ainda segundo o Ministério, no período de 2016 a 2017, 15 mil mortes foram causadas por falta de atenção. Além disso, no mesmo período, foram 275 mil feridos no trânsito por causa desse comportamento distraído.
Usar celular aumenta em 400% o risco de acidente
Segundo a Administração Nacional de Segurança Viária dos Estados Unidos, utilizar o celular no trânsito, seja para olhar brevemente uma rede social, seja para atualizar o feed de notícias, pode aumentar em até 400% a chance de acidentes.
O Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi), um órgão brasileiro, indica que, em média, os motoristas brasileiros chegam a ficar 4,5 segundos com os olhos na tela do celular. Parece um tempo muito curto, mas, como se sabe, no trânsito qualquer fração de segundo pode mesmo ser fatal.
Ainda segundo o Cesvi, olhar uma rede social, estando a uma velocidade média de 80 km/h, equivale a percorrer um campo de futebol todo de olhos fechados. Se o carro está a 50 km/h, essa mesma ação equivale a percorrer o equivalente a 12 carros populares enfileirados.
Pedestres também devem prestar atenção
É claro que o motorista e o motociclista, quando estão dirigindo, são os grandes protagonistas do trânsito. Mas eles não são os únicos responsáveis pelo que acontece nas ruas e estradas. Os pedestres também têm papel fundamental nesses espaços.
Andar distraidamente, ouvindo música, ou checando as redes sociais, sem prestar atenção na movimentação de carros e motos são algumas das ações que os pedestres costumam fazer.
Embora a tendência seja a de culpar os motoristas e motociclistas, muitas vezes, os causadores de acidentes são os pedestres e, por isso, eles também devem ser um público-alvo na conscientização das leis e normas de trânsito.