Baratas são uma das pragas mais resistentes enfrentadas pela humanidade. Qualquer medida para contê-las geralmente é infrutífera ou causa mais danos do que benefícios. Em outros casos, esses insetos resistentes simplesmente se adaptam a certos tipos de veneno e ainda ficam mais fortes.
Um estudo — liderado por Ayako Wada-Katsumata, do Departamento de Entomologia da Universidade Estadual da Carolina do Norte — revelou que baratas conseguiram se adaptar ao uso de iscas que mistura inseticidas com glicose, bastante comum para controlar grandes infestações do inseto. A glicose atrai a barata, e o inseticida o mata.
A técnica é usada desde meados da década de 1980, mas recentemente especialistas começaram a encontrar baratas que não apenas resistem à tentação de comer a isca, como desenvolveram aversão à glicose.
A Blattella germanica (conhecida como barata-alemã) é uma espécie de barata perfeitamente adaptada para viver em ambientes humanos. Para se acasalar, um macho atrai a fêmea com uma pasta a base glicose, que ela degusta enquanto o macho fixa um gancho peniano em seu corpo, um movimento que dura cerca de quatro segundos.
A fixação é fundamental para os dois se manterem na mesma posição por cerca de 90 minutos, tempo necessário para ele transferir o esperma que gerará montes de baratinhas.
Mas, cientistas começaram a notar que algumas fêmeas passaram a ter aversão ao presente açucarado dos machos, e especularam que pode ter sido uma reação ao uso desenfreado de iscas com glicose.
Enquanto rejeitar a glicose deu uma vantagem temporária contra humanos, criou um problema de acasalamento. Assim que o macho oferece a pasta química, a fêmea sai da posição necessária para ser fertilizada, o que reduziria drasticamente as populações de baratas.
Mas aí entram as capacidades de adaptação do inseto! O novo estudo, publicado no final de março no periódico Proceedings of the Royal Society B, mostrou que as baratas caseiras começaram a se adaptar de duas formas para lidar com as mudanças.
Ao invés de glicose, a pasta química agora é rica em maltotriose, outro composto igualmente doce, mas que não causa repulsão nas fêmeas e ainda não está presente nas iscas. Além disso, os machos passaram a levar menos tempo para a fixação do gancho: ao invés de quatro segundos, eles agora conseguem numa média de três segundos.
A rápida adaptação das baratas a uma ameaça devastadora mostrou que humanos vão precisar de muita esperteza para produzir novas iscas e inseticidas, enquanto contemplam a natureza se esgueirar novamente.