A investigação do coach Thiago Schutz por ameaça de morte à atriz e humorista Lívia La Gatto levantou discussões nesta semana sobre os grupos de masculinidade como Redpill, Incel e MGTOW, que pregam superioridade e ódio às mulheres na internet.
A humorista recebeu mensagens de Thiago Schutz após viralizar com uma paródia na qual ironizava as ideias disseminadas por grupos Redpill – comunidade que prega a submissão das mulheres como um caminho para os homens resgatarem sua masculinidade. O coach ordenou que Lívia apagasse o conteúdo, do contrário receberia “processo ou bala”.
“O masculinismo se apropria desse momento”, explica a cientista política Bruna Camilo, que conseguiu se infiltrar nesses grupos para pesquisar redes de ódio e misoginia no Brasil. “Eles usam [o termo] ‘estar redpilado’, que é quando aquele homem acorda para a realidade e ele começa a ver o que acontece ao seu redor. E para eles uma das realidades é que as mulheres são as grandes vilãs da sociedade, atrás de direitos privilegiadas, interesseiras, aproveitadoras.”
Segundo a pesquisadora, os grupos de masculinidade que ela avaliou têm em comum um discurso de ressentimento em relação às mulheres, mas há algumas especificidades em cada uma das comunidades. Veja abaixo:
- Redpill: pregam que é necessário se aproveitar das mulheres e torná-las submissas para recuperar a virilidade perdida.
- Incel: autointitulados “celibatários involuntários”, culpam as mulheres por não conseguirem ter relações sexuais e endossam violência contra qualquer grupo sexualmente ativo, inclusive contra comunidades LGBTQIA+ .
- MGTOW: sigla para “man going their own way” (em português, “homens seguindo o seu próprio caminho”). Acreditam que a sociedade deve romper com as mulheres porque, segundo eles, o feminismo tornou as mulheres perigosas.
Nem todos os conteúdos disseminados entre os grupos são explicitamente agressivos em relação às mulheres. Muitos vêm disfarçados de autoajuda. Também circulam cursos pagos que ditam como homens devem se portar.
Em entrevista a Natuza Nery, a pesquisadora associa a expansão desses grupos ao fortalecimento de discursos de extrema-direita no Brasil e explica a obsessão em mostrar superioridade às mulheres.
“Se você controla gênero, você controla o poder. Você controla diversos temas da nossa sociedade. A relação dos movimentos com a extrema direita são políticas antigênero”, diz.