Pode parecer estranho, mas alguns lojistas, que anunciam e comercializam seus produtos no site e no aplicativo da Americanas, estão fazendo de tudo para não vender mais nada por esses canais. A principal estratégia tem sido aumentar os preços, tanto que equipamentos caros, como computadores, começaram a ser anunciados por valores até duas vezes acima que o encontrado nas páginas dos mesmos comerciantes na internet.
O que justifica essa atitude é o receio de que a Americanas, que está em processo de recuperação judicial, não repasse aos parceiros do marketplace os pagamentos feitos pelos consumidores, ou transfira apenas uma parte, no caso de compras parceladas.
Tecnicamente, eles pretendem evitar ao máximo ficar com recebíveis de cartões de crédito presos na companhia e, para isso, tentam impedir as vendas das mercadorias mais caras, que as pessoas costumam pagar em várias vezes.
O exemplo mais evidente de produto com valor superfaturado é o notebook gamer da marca Dell, modelo G15 5520, com processador i7-12700H, memória ram de 16GB (gigabyte), armazenamento ssd de 512GB, e tela full HD de 15.6” (polegadas). No site da Americanas, ele é anunciado por um por R$ 21.107, como pode ser visto na imagem abaixo, mas na página do próprio parceiro, o preço cobrado pelo mesmo produto é R$ 10.399 (R$ 9.879,05, se o pagamento for à vista).
Outro comerciante fez algo parecido: um notebook da mesma marca, tipo gaming, modelo G15 5511, com processador Intel i7-10800H e memória / armazenamento: 16GB/512GB ssd, aparece no e-commerce da Americanas com o preço R$ 22.349,99, enquanto na página do lojista é anunciado por R$ 14.900 (ou R$ 13.112 via Pix).
Em vez de manter os anúncios no portal da Americanas e aumentar os preços para dificultar a venda, não seria melhor se desligar do marketplace? Como tudo o que envolve a varejista em crise, neste momento, não.
Encerrar o acordo e fechar a conta na plataforma de vendas é um processo complexo para o parceiro, que pode ser burocrático e demorado. Fica mais simples colocar preços absurdos e mexer nos valores de frete, tornando a compra pouco atrativa para o cliente, já que o objetivo é não correr o risco de vender pelo site ou app da Americanas.
Há alguns dias, a companha enviou um comunicado aos lojistas, dizendo que as vendas, expedição, coleta e entrega de produtos estavam acontecendo normalmente. Antes de pedir a recuperação judicial, a Americanas afirmava que continuaria fazendo todos repasses aos lojistas, que temiam não receber o créditos que têm em haver.
Assim como fizeram outros varejistas, a Americanas transformou seu e-commerce, tanto o site quanto o app, em marketplace, um canal em que não apenas vende seus produtos, mas abre espaço para que terceiros façam negócios, com acesso a seus clientes, recursos tecnológicos e logística.
Por isso, não é difícil encontrar nesses sites um mesmo produto vendido por lojas distintas, com informações referentes a preços, taxas de frete e previsão de entrega diferentes.