O desaparecimento do trilheiro Kamal Robler Guster aos 34 anos, no dia 3 de maio de 2015, na travessia entre a cidade de São Paulo e o litoral do estado pela Serra do Mar segue como mistério. O homem era de Santo André, no ABC Paulista, e integrava um grupo de 15 pessoas, quando sumiu na mata. Até hoje, nenhum objeto pessoal ou qualquer vestígio de Kamal foi encontrado.
Na terça-feira (13), completou 10 dias que um homem e uma mulher estão desaparecidos em outra trilha no extremo da Zona Sul de São Paulo.
O caso de Kamal foi investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Itanhaém, que ouviu testemunhas e abriu inquérito para tentar descobrir o que aconteceu. O caso foi relatado ao Poder Judiciário em 2017 e arquivado sem solução no mesmo ano pelo Tribunal de Justiça.
Amigos que estavam na travessia foram ouvidos e afirmaram que mesmo após o fim das buscas feitas pela polícia e bombeiros, as ações foram mantidas por conhecidos por cerca de seis meses. Faixas foram colocadas na mata, indígenas foram informados e recompensas oferecidas.
O explorador Divanei Goes de Paula, que fazia parte do grupo naquela manhã fria de maio, contou o que ocorreu no último dia em que Kamal foi visto:
- Grupo de 15 pessoas começa trilha de São Paulo a Itanhaém pela Serra do Mar
- Uma pedra se solta e atinge um dos integrantes do grupo
- Kamal e mais um integrante, que estavam à frente do grupo, não escutam o que ocorreu e seguem a travessia
- Parte do grupo inicial volta e leva o ferido para o hospital
- Kamal e o parceiro dormem sozinhos na trilha
- O restante do grupo acampa e espera a dupla no começo da trilha
- Kamal e o parceiro acordam e percebem que a água está gelada
- O parceiro de Kamal tem uma calça especial para travessia na água e decide seguir a trilha pelo leito do rio
- Kamal, sem a calça, decide ir pela mata e encontrar o parceiro 80 metros adiante
- Foi a última vez que os dois se viram
- O parceiro encontrou o restante do grupo no fim do trilha em uma aldeia indígena
- Eles acampam à espera de Kamal e depois fazem buscas por 6 meses sem sucesso
Divanei deu detalhes do que ocorreu no começo da trilha.
“Abriu um pouco a cabeça [do homem atingido pela pedra]. A gente ‘estacionou’ e os dois meninos que estavam à frente abrindo o caminho acabaram seguindo. Quando eles ouviram os apitos se confundiram e acharam que a gente estava apitando mais abaixo do vale. Imaginaram que nós tínhamos atravessado. Em vez de eles voltarem, eles acabaram seguindo”, lembra Divanei.
“Tinham experiência para descer e ficamos tranquilos. Estavam com perneiras, coletes salva vidas. E eles foram bem e desceram o vale. Não existe trilha. São travessias sem trilha e varando o mato, escalando o barranco. Eles chegaram à parte plana já”, completa.
Separação da dupla
“[Kamal] Ia cortar pelo mato e encontrar o outro depois de uns 80 metros. Coisa boba. Ele subiu, escalou um pedaço, passou pela mata, cruzou o morro para encontrar o menino que estava pelo rio. O menino esperou e ele não apareceu mais.”
“Comprovamos com o GPS que ele [o parceiro de Kamal] voltou. Estava tudo marcado. Procurou o Kamal e nada, mas estava na parte plana [do trajeto] e seguiu para encontrar com o Kamal na tribo. O Kamal já tinha feito essa trilha uma vez e conhecia o caminho”, complementa Divanei.
Hipótese
Para Divanei, o que ocorreu com Kamal pode ter sido semelhante ao que aconteceu em junho, na Serra do Gigante, o pico mais alto do Vale do Ribeira. Um trilheiro foi resgatado pelo Grupamento Aéreo da Polícia Militar de São Paulo no dia 20, após sofrer uma fratura exposta no braço por uma queda de cerca de 7 metros.