Já pensou se fizesse parte do seu dia a dia de trabalho fazer cinco quilômetros de caminhada pela floresta amazônica adentro, correndo riscos e levando nas costas uma mochila com um monte de equipamentos pesados? Muitas vezes, essas são as condições enfrentadas pelos fiscais de campo da Superintendência de Fiscalização – SUF/SEMA-MT.
Eles estão lá na ponta, sendo os responsáveis mais diretos para frear o desmatamento ilegal, seja no bioma Amazônia, Cerrado ou Pantanal. Um trabalho exaustivo e perigoso, mas que é fundamental para manter a floresta em pé. E em comemoração ao Dia do Agente de Defesa Ambiental (6 de fevereiro), que é celebrado no próximo domingo, resolvemos falar um pouco do trabalho dos fiscais de campo da SUF, que arriscam suas vidas para proteger a maior floresta tropical do planeta.
‘É exaustivo, perigoso, mas me dá satisfação’
Fernando Luiz Mews é analista de Meio Ambiente, atua há 15 anos na Coordenadoria de Fiscalização de Flora/SUF/SEMA-MT e conta que os infratores cada vez mais pensam em novas estratégias para complicar o trabalho dos agentes. Uma das “táticas” é inverter o desmatamento, ou seja: iniciá-lo no meio da floresta para depois chegar na ponta.
“Os infratores não começam a desmatar na beira da estrada. Eles começam floresta adentro justamente para dificultar a nossa fiscalização. Para isso, abrem trilhas estreitas e levam a motosserra na garupa da moto para iniciar a derrubada das árvores”, conta.
Segundo ele, com a trilha estreita, o jeito é deixar a caminhonete à beira da estrada e seguir a pé, se embrenhando mata adentro. Picadas de mosquitos, animais peçonhentos e a umidade intensa são companheiras no percurso até o ponto do desmate.
“Até o local da infração, a caminhada pode levar de quatro a cinco quilômetros. Agora, você imagina ter que percorrer isso a pé e com equipamentos pesados nas costas. Com toda umidade da floresta amazônica, você transpira muito. É um trabalho muito perigoso e exaustivo, mas eu gosto. Me dá satisfação, porque eu consigo ver na prática os resultados do combate ao desmatamento ilegal”, afirma.
Vale destacar, que devido ao perigo, pois muitos infratores também andam armados, os Fiscais da SUF contam com apoio de grupos especializados em operações na floresta, como o BOPE e a Força Tática, da Polícia Militar; e a GOE, da Polícia Civil.
Armadilhas
Mas o maior perigo mesmo são as armadilhas deixadas pelos infratores.
“A qualquer momento há o risco de uma árvore enorme cair na sua cabeça. Por que isso? É que eles [infratores] têm a prática de cortar as árvores pela metade com a motosserra. Essas árvores não caem naquele momento. Provavelmente vão cair no outro dia, com os ventos mais fortes pela manhã. E isso pode ser fatal para os fiscais”, alerta.
Fernando lembra de um episódio desse tipo, quando ele, juntamente com a sua equipe, foi atender uma ocorrência de extração ilegal de madeira no município de Colniza, extremo norte de Mato Grosso, a 1.065 km de Cuiabá. Quando os fiscais chegaram ao local, os infratores conseguiram fugir para o interior da floresta amazônica.
“A partir disso iniciamos o auto de infração e a medição das madeiras extraídas ilegalmente. De repente, ouvimos um estalo. Nos assustamos e começamos a afastar do local, quando, para a nossa surpresa, uma árvore começa a cair e para no chão ao lado da nossa caminhonete. Se tivesse caído no veículo seria um estrago feio. Se tivesse caído em um de nós, provavelmente essa pessoa teria morrido na hora”.
Retaguarda
Mas, para que os fiscais atuem bem no campo é preciso de uma boa retaguarda, tanto de planejamento, equipamentos e recursos tecnológicos. Para isso, existe a Gerência de Planejamento de Fiscalização e Combate ao Desmatamento, que é centro de comando de operações da SUF, localizado na sede da SEMA-MT, em Cuiabá, que traça o planejamento das ações de campo.
“O centro de comando recebe os alertas de maneira automática por meio do sistema de monitoramento de detecção do desmatamento DETER, do Governo Federal; ou do sistema de satélites Planet, que foi adquirido pela Sema-MT, através do Programa REM Mato Grosso. A partir disso são traçados os locais onde a gente deve atuar para frear o desmatamento”, detalha.
Um divisor de águas
Por sinal, Fernando destaca que o REM MT (do inglês REDD para Pioneiros) foi um divisor de águas para as ações da SUF: “a gente pode dividir a fiscalização antes e depois da chegada do REM no Estado. Pelo menos é assim que eu vejo”, declara.
Nisso, ele destaca dois fatores essenciais com a chegada do Programa: a aquisição da Planet e o serviço de remoção dos maquinários.
“No Planet, as imagens são geradas diariamente e com isso a gente consegue fazer os flagrantes do desmatamento: prender na hora os infratores e lavrar as multas e embargo da área. Antes, as coisas não eram assim, em tempo real. E o serviço de remoção descapitaliza o infrator, pois ele é obrigado a parar o desmate, pois já não possui o trator, a motosserra para fazê-lo. Nos últimos anos, isso tem surtido efeitos muito bons no combate ao desmatamento”, afirma o fiscal da SUF.
Além disso, destaca Fernando, o REM, por meio do Subprograma Fortalecimento Institucional do REM, tem fornecido, nos últimos três anos, uma série de equipamentos para aprimorar o trabalho dos fiscais de campo, como drones, coletes balísticos e aluguel de camionetes.
“O Programa tem sido fundamental nesse suporte financeiro, principalmente para aquisição desses materiais que nos tem possibilitado mais agilidade para conter o desmatamento ilegal”, reforça.