A energia proveniente do Sol tem se tornado uma alternativa cada vez mais popular, entretanto ainda apresenta um custo elevado para a implantação. Um protótipo de célula fotovoltaica orgânica, porém, pode revolucionar esse cenário. A promessa é de acelerar e baratear os custos da produção de placas solares e causar menor impacto ambiental.
Essa é uma iniciativa de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) – Grupo de Pesquisa em Materiais Moleculares.
Segundo o professor Eralci Therézio, do Instituto de Física (IF) da UFMT, atualmente quase a totalidade das células que constituem os painéis solares no mercado são feitas de silício.
Esse é um elemento químico da família do carbono que é extraído por meio da mineração – processo danoso ao meio ambiente e que encarece a produção.
Esse é, portanto, o grande diferencial do protótipo que está sendo desenvolvido – o processo de produção. Os polímeros das células fotovoltaicas orgânicas podem ser produzidos em laboratório, potencializando os benefícios ambientais e reduzindo o tempo e o custo da produção de uma célula fotovoltaica.
“Ela é composta por materiais puramente orgânicos, como por exemplo, os polímeros ou algumas moléculas de corantes. Esses materiais orgânicos ainda dão uma característica peculiar, a flexibilidade”, explica o pesquisador sobre a célula fotovoltaica orgânica.
A flexibilidade como uma característica permite uma perspectiva de produto final que se molde ao ambiente, expandindo a viabilidade do produto.
Segundo o docente, esse é um avanço que permite repensar a produção de energia limpa – aquela que não libera gases poluentes causadores do efeito estufa, durante o processo de produção e o consumo.
O panorama atual
A energia solar é uma alternativa de consumo no país desde 2012. Atualmente representa apenas 1,7% de toda a matriz energética, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Conforme dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) o Brasil atingiu, no ano de 2020, a marca de 30 mil imóveis com o sistema. Isso representa um crescimento de 45% em relação a 2018.
De acordo com Edson Moura, de 53 anos, proprietário de uma empresa de energia solar, a implementação é uma alternativa viável, principalmente em uma perspectiva de longo prazo.
“Uma produção de 1.500 quilowatts por mês, por exemplo, equivaleria a uma conta de energia de aproximadamente R$ 1,3 mil, em 40 meses. Em torno de 3 anos e meio o investimento estaria pago”, afirma o empresário.
Para a implementação é necessária a realização de uma avaliação do consumo do local da instalação. Dessa forma será possível fazer a escolha mais adequada para cada necessidade.
Ivair Moura, de 54 anos, é dono de uma distribuidora de autopeças. Ele faz uso das placas solares há 2 anos e afirma estar muito satisfeito com o produto. “Eu penso que esse é um dos melhores investimentos que existem, é um investimento até melhor do que a casa própria”, aponta o consumidor.
Ivair realizou um financiamento bancário para aderir a esse modelo de produção de energia. Foram 36 parcelas de R$ 5 mil. “Lembro que eu pagava um absurdo, R$ 7,5 mil de energia por mês. Agora a minha conta caiu para uma média de R$ 600”, compara.
“Eu estou pagando o financiamento, a Energisa e ainda sobra dinheiro. Daqui há um ano, eu acabo de pagar o financiamento”, complementa Ivair.
Edson esclarece o processo para a adesão. “Primeiro verificamos a forma de pagamento, se à vista ou financiado. Depois nós vamos dar entrada na Energisa. Tem todo um processo, ela tem que homologar esse processo e autorizar a instalação do equipamento”.
Segundo o proprietário da empresa solar, cada equipamento instalado constitui nas residências e estabelecimentos uma usina de produção de energia.
Um longo caminho pela frente
Atualmente, são 285.366 sistemas fotovoltaicos ligados à rede e a estimativa, segundo o Portal Solar, é que, em 2024, sejam aproximadamente 887 mil sistemas conectados.
Com as vantagens que o protótipo apresenta, o crescimento poderá ser exponencialmente maior, entretanto ainda há um longo caminho a ser percorrido até a comercialização de um produto final.
O pesquisador explica que o projeto faz parte do que é chamado de ciência básica – aquela que tem por objetivo o conhecimento em si, ou seja, procura descrever elementos básicos da natureza, como a estrutura das partículas fundamentais e as leis que as governam. São o “coração” de todas as descobertas.
“Embora tenha a tentativa de se produzir um protótipo que seja viável para uma produção de um dispositivo em si, o projeto é de ciência básica, então o produto final que a gente teria é um protótipo funcionando e não um produto para comercialização”, explica Therézio.
A ciência aplicada, entretanto, estuda formas de utilizar esses conhecimentos descobertos por meio da ciência básica, em benefício do homem.
“O projeto de ciência aplicada nasce de um projeto de ciência básica. É pegar esse protótipo e montar um projeto no qual esta célula passaria a ser a unidade básica para a construção de um painel solar constituído de material puramente orgânico. Aí sim a gente poderia falar de um produto pronto para a comercialização”, esclarece Therézio, sobre a diferença na prática entre os dois tipos de pesquisas.
Enquanto a placa composta de célula fotovoltaica orgânica não chega ao mercado consumidor, a atual forma de produção de energia solar ainda seria uma opção viável.