O baixo desempenho do Brasil nas Olimpíadas é um sinal de problemas futuros?

Fonte: MF Press

Lincoln Nunes 4

Após a eliminação do Brasil das Olimpíadas de Paris-2024, os torcedores ficaram intrigados para entender o que ocorreu nos bastidores. A surpreendente derrota da seleção masculina de futebol, conhecida por seu histórico de sucesso em competições internacionais, levantou uma série de questionamentos sobre os possíveis motivos por trás do resultado. Atual bicampeão olímpico, o time não conseguiu vaga para os Jogos que serão disputados entre julho e agosto, ficando de fora pela primeira vez em 20 anos.  Enquanto os torcedores lamentam a incerteza sobre o futuro do futebol nacional, especialistas buscam respostas para essa inesperada reviravolta no cenário esportivo brasileiro.

De acordo com o preparador mental esportivo, Lincoln Nunes, o aspecto mental pode ter desempenhado um papel crucial na campanha da seleção. “Provavelmente o Brasil seria mais forte se pudesse contar com nomes de craques como Vitor Roque, Gabriel Martinelli, Rodrygo, Paulinho, João Pedro… Ou com outros atletas que foram chamados e não conseguiram integrar o time. Mas isso no máximo justifica o argumento de que a seleção poderia jogar muito melhor. Mas não explica o baixo desempenho ao ponto de ficar de fora das Olimpíadas, isso é muito sério”, afirma Lincoln.

A análise de Nunes sugere que o preparo mental dos jogadores pode ter sido um fator determinante no desempenho da equipe. Em competições de alto nível, como as Olimpíadas, o aspecto psicológico pode ser crucial para lidar com a pressão, expectativas e adversidades que surgem durante os jogos. “Questões como autoconfiança, gestão do estresse e resiliência emocional são fundamentais para que os jogadores enfrentem desafios com determinação e foco, além de manterem um alto nível de desempenho ao longo da competição”, explica o preparador.

Assim, a ausência de jogadores importantes pode ter afetado não apenas a qualidade técnica da equipe, mas também a coesão e a mentalidade do grupo como um todo. “A falta de experiência e maturidade emocional de alguns jogadores pode ter contribuído para dificultar ainda mais a superação dos obstáculos enfrentados pela seleção brasileira. Por esse motivo é essencial que os atletas recebam suporte psicológico adequado, além do treinamento físico e técnico, para desenvolverem habilidades mentais que os ajudem a enfrentar os desafios de forma mais eficaz e maximizar seu potencial durante as competições”, acrescenta o especialista.

Importância do preparo mental

Sim! Diferente do que muitos pensam, no futebol, ser um bom jogador vai muito além de bater bola e ser ágil. O preparo mental e cognitivo dos atletas desempenha um papel crucial no futebol, indo além das habilidades físicas e técnicas. “Essas habilidades incluem consciência situacional, tomada de decisão sob pressão, foco, concentração e controle emocional. Capacidades como antecipar jogadas, identificar oportunidades e resolver problemas rapidamente são fundamentais para o sucesso em campo. Além de melhorar o desempenho individual, o preparo mental contribui para o sucesso coletivo da equipe, influenciando diretamente o resultado das partidas. Hoje, todos os atletas de elite são preparados por uma equipe de preparadores mentais, psicólogos e terapeutas”, esclarece o profissional.

Ele destaca também os cortes de três titulares durante o Pré-Olímpico como fatores determinantes. “Os cortes dos três titulares: o zagueiro Michel, o lateral Kaiki Bruno e o meio-campista Marlon Gomes durante o Pré-Olímpico tiveram um peso significativo. Nenhum dos três disputou o quadrangular final. Ramon não conseguiu ou não quis repetir a escalação uma vez sequer no torneio. Quem estava jogando não correspondeu ao necessário”, destaca Lincoln.

No caso de Ramon, o especialista pondera que a passagem do jogador pela seleção principal também foi marcada por instabilidade. “Em três jogos após a saída do técnico Tite, o time venceu um e acabou sendo derrotado em dois. Foi a primeira derrota para o Senegal na história, com goleada. Retrospecto terrível com todos os craques disponíveis”, acrescenta.

Por outro lado, Nunes pondera sobre os desafios técnicos enfrentados pela equipe. Ele destaca que, ao longo da campanha, a seleção enfrentou diversos momentos de fragilidade defensiva, onde a equipe se mostrou espaçada e vulnerável a ataques adversários. Além disso, houve uma falta de criatividade na construção de jogadas ofensivas, o que comprometeu a capacidade da equipe de criar oportunidades de gol. “A pouca efetividade em campo também foi uma preocupação, pois os jogadores não conseguiram converter as chances criadas em resultados concretos. Esses desafios técnicos evidenciam a necessidade de aprimoramento e desenvolvimento contínuo da equipe, tanto em termos individuais quanto coletivos”, alerta o profissional.

A exclusão da seleção masculina de futebol das Olimpíadas de Paris-2024 representa não apenas uma decepção isolada, mas parte de uma série de resultados negativos para as seleções brasileiras. Com reflexões tanto sobre os aspectos técnicos quanto mentais, o Brasil busca aprender com essa experiência e traçar um caminho mais promissor para o futuro do futebol nacional.

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Colunista do Cenário MT é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA - American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE - Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE - Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro Mensa, Intertel e Triple Nine Society, sociedades de pessoas com alto QI.