Ignore as alegações do TikTok: “Ozempic Natural” não é bom como parece, alerta especialista

Especialista em Medicina Tradicional Chinesa e fitoterápicos adverte sobre o uso de manipulados para emagrecer

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Nas plataformas de mídias sociais como Instagram e Tiktok, o composto à base de plantas conhecido como berberina ganhou destaque entre usuários e influenciadores por supostamente auxiliar na redução de peso. Se seguirmos a orientação dos influenciadores, a berberina pode ser considerada como uma alternativa aos medicamentos populares para emagrecimento, como Ozempic e Wegovy. A utilização do composto como suplemento tornou-se tão comum que alguns a apelidaram de “Ozempic Natural”. Apoiado a isso, alguns fabricantes de manipulados estão se aproveitando dessa tendência.

No entanto, Patricia Liu, especialista em Medicina Tradicional Chinesa e fitoterapia, expressa preocupações em relação ao uso desse suplemento não regulamentado, “O desafio com a berberina e outros suplementos naturais são que eles geralmente não são submetidos a rigorosos ensaios clínicos randomizados, como medicamentos convencionais”, explica a profissional.

Segundo Patrícia, a planta é utilizada na Ayurveda e na medicina chinesa para tratar uma variedade de condições, como inflamações, feridas, constipação, hemorroidas e infecções em diferentes partes do corpo, “Além disso, a berberina pode aumentar a produção natural do corpo do GLP-1, um hormônio gastrointestinal semelhante ao glucagon, utilizado em medicamentos como o Ozempic e outros novos tratamentos para perda de peso. No entanto, em termos de benefícios de emagrecimento, esses efeitos são pequenos”, alerta a especialista.

Isso não significa que a planta não tenha impacto nos processos metabólicos do corpo. Uma análise de vários estudos  sobre a influência da berberina nos fatores de risco cardiovascular, incluindo a obesidade, revelou um modesto benefício na perda de peso. No entanto, isso não necessariamente significa que haja relevância clínica, ou seja, resultados relevantes na prática. Em média, entre os estudos, a redução do índice de massa corporal (IMC) foi de aproximadamente 0,25 em comparação com o grupo controle que recebeu um placebo. Comparando com Ozempic e Wegovy, que reduziram o IMC em relação ao placebo em aproximadamente 4,61 unidades de IMC, tornando-os cerca de 18 vezes mais eficazes do que a berberina. Portanto, ela tem algum efeito, mas nada significativo.

Liu destaca ainda possíveis efeitos colaterais da berberina, assim como qualquer outro suplemento, que incluem interações com outros medicamentos, como a metformina, prescrita para pessoas com diabetes e síndrome do ovário policístico, e com a ciclosporina. Outra interação conhecida ocorre com medicamentos sedativos, intensificando a sonolência e a respiração lenta. Além disso, não deve ser usada durante a gravidez ou amamentação, e seu uso frequente pode irritar o trato intestinal.

A profissional explica que certamente, a busca por soluções milagrosas e rápidas é uma tendência comum, “Muitas vezes, as pessoas anseiam por resultados imediatos e fáceis, o que levou à popularização de produtos e práticas que prometem transformações rápidas, como no caso da berberina”, afirma Patrícia. No entanto, é importante lembrar que abordagens simples e fundamentais, como uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos e uma boa qualidade de sono, são componentes essenciais para manter a saúde e o bem-estar, “Essas práticas, embora não sejam “milagrosas,” são comprovadas como eficazes para promover uma vida saudável. As mudanças graduais e consistentes no estilo de vida têm um impacto duradouro e benéfico na saúde. Portanto, enquanto em vez de buscar atalhos, é importante reconhecer o valor do simples e constante compromisso com a saúde e o bem-estar”, complementa.

Além disso, é fundamental compreender que “natural” nem sempre significa “seguro” ou “benéfico.” Muitas substâncias naturais podem ser tóxicas e prejudiciais à saúde. A natureza é repleta de compostos que podem ser venenosos em determinadas concentrações ou contextos, “Por outro lado, a medicina moderna e os tratamentos farmacêuticos passam por rigorosos testes e regulamentações para garantir sua segurança e eficácia. Portanto, confiar cegamente em produtos rotulados como “naturais” pode ser arriscado, pois esses produtos não passam pelo mesmo escrutínio regulatório”, finaliza Liu.

A natureza oferece uma gama diversificada de substâncias, algumas benéficas e outras prejudiciais. Portanto, é crucial avaliar cada substância ou produto individualmente com base em evidências científicas e consultar profissionais de saúde qualificados antes de adotar qualquer tratamento ou suplemento, seja natural ou não.
Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Colunista do Cenário MT é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA - American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE - Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE - Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro Mensa, Intertel e Triple Nine Society, sociedades de pessoas com alto QI.