Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem se mostrado cada vez mais presente na arte, seja na música, na ilustração ou na literatura. E com os avanços tecnológicos, é possível criar obras cada vez mais complexas e realistas. Porém, a utilização da IA na arte também traz consigo questionamentos éticos e artísticos, como a recente polêmica demonstrada pela música viral “Heart On My Sleeve”. A faixa que simula os músicos Drake e The Weeknd cantando versos sobre a cantora e atriz Selena Gomez, ex-namorada de The Weeknd.
O criador conhecido como @ghostwriter no Tiktok, afirma que criou a música através de um software treinado para reproduzir as vozes dos artistas. A faixa conta com alegações de The Weeknd de que Selena o traiu antes do término em 2017. Drake já reclamou sobre o rumo que a IA está tomando no ramo artístico depois que o cantor teve a voz usada para cantar “Munch”, sucesso da rapper Ice Spice, sob o uso de Inteligência Artificial. Quando soube do ocorrido, mostrou frustração dizendo: “Isso é a gota d’água” em uma postagem em suas redes sociais.
Vários sites estão oferecendo ao público a funcionalidade de criar músicas usando vozes de famosos. Com isso, muitos artistas estão preocupados com o uso da IA na arte, temendo que possa haver a substituição de músicos e compositores por algoritmos. De acordo com Jeff Nuno, empresário e especialista em distribuição digital, a IA pode ser uma ferramenta interessante para a criação de novos sons e estilos musicais, mas não pode substituir a sensibilidade humana na arte. “A música é uma expressão de sentimentos, emoções e ideias, e isso é algo que apenas um ser humano pode fazer. A IA pode ajudar na produção de novos sons e na experimentação, mas a verdadeira essência da arte está na alma humana”, explica Jeff.
Recentemente, um grupo de artistas lançou a “Campanha de Arte Humana”, com objetivo de garantir que a inteligência artificial não substitua a criatividade humana. A ação foi apoiada pela Recording Industry Association of America, a Association for Independent Music e o BPI, que organiza a premiação do Brits. O grupo defendeu sete princípios para garantir melhores práticas e frisou que a proteção dos direitos autorais deve ser concedida apenas para músicas criadas por humanos.
Um ponto de preocupação é a questão dos direitos autorais. Se uma música é criada por uma IA, quem é o dono da obra? É o programador que criou o algoritmo, o produtor musical que utilizou a rede neural, ou a própria IA que “aprendeu” a criar a música? Essa questão ainda é objeto de debate e pode ter implicações legais importantes no futuro, já que artistas não precisam conceder autorização para que suas obras façam parte de bancos de dados de IA, como o Chat GPT, por exemplo. No Brasil, ainda não existe consenso sobre questões jurídicas de direitos autorais dessas criações. Mas no Congresso já está tramitando um projeto de lei para regulamentar o uso de IA, que já foi aprovado pelos deputados e aguarda aprovação no Senado. Recentemente, a Universal Music Group (UMG) pediu para os serviços de streaming como Spotify e Apple Music Impedissem que empresas de inteligência artificial acessassem suas bibliotecas de músicas. Acredita-se que elas estejam usando as músicas para “treinar” os seus softwares.
“Apesar dos questionamentos, a utilização da IA na arte tem trazido avanços significativos. Na música, por exemplo, algoritmos podem ser usados para criar harmonias e melodias mais complexas e inovadoras, auxiliando os compositores em suas criações. Já na pintura, a IA pode ajudar na restauração e preservação de obras de arte antigas, identificando detalhes que seriam invisíveis a olho nu”, salienta Jeff.
A IA pode ser uma ferramenta poderosa na arte, mas é importante lembrar que ela não pode substituir a criatividade e sensibilidade dos seres humanos. É necessário encontrar um equilíbrio entre a utilização da tecnologia e a valorização da expressão artística como uma manifestação única e insubstituível da alma humana.