‘Fechada por falta de recurso’, essa é a frase que está estampada em uma faixa nas grades do muro da casa de acolhida Lar Bom Samaritano.
Desde a manhã dessa quinta-feira (31) a entidade, que atua há 15 anos em Lucas do Rio Verde-MT, recebendo pessoas em trânsito e que não tem lugar para ficar, não está amparando ninguém. Além disso, alguns idosos, não tendo outra opção estavam morando no local, tendo em vista que o município não conta com asilo para receber essas pessoas.
Os portões estão fechados e os ocupantes precisaram sair do local.
Com 57 anos de idade e saúde fragilizada por conta de um AVC (acidente vascular cerebral), Reginaldo Gonçalves, se emocionou ao comentar a reportagem do CenárioMT, que estava amparado na casa de acolhida há dois anos. Com a saúde fragilizada, Gonçalves não consegue trabalhar.
O morador conta que foi encaminhado pela Assistência Social do município até a casa na época em que procurou ajuda. “Aqui eu recebia alimentação e com ajuda da bolsa família eu compro minha medicação. Às vezes cato latinha na rua para ajudar a manter o tratamento”, afirmou. “Com a casa fechando, eu vou ter que ir pra rua” disse o homem.
A situação da casa de acolhida, conforme já informado pelo CenárioMT, se agravou ao passo que o poder público deixou de fazer o repasse mensal no valor de R$ 16 mil para manutenção da casa. Hoje a diretoria da entidade tenta resolver um déficit no valor de R$ 30 mil das contas da ONG. São dívidas provenientes de compra de materiais de limpeza, alimentos, energia elétrica, folha de pagamento de dois funcionários e outros serviços essenciais para o funcionamento da mesma.
“A sociedade luverdense sempre contribuiu com doações para a casa, porém, ainda não é o suficiente para cobrir todos os gastos mensais”, salientou a secretária da diretoria do Lar Bom Samaritano, Kelly Piccini.
Em entrevista ainda na data de ontem (30/01), a Secretária de Desenvolvimento Social, Lucileide Gurka, confirmou a suspensão dos repasses ao Lar Bom Samaritano, afirmando que entidade está com a documentação pendente junto à prefeitura municipal.
“Nós, em novembro, entramos em contato com a diretoria da O.S.C (Lar Bom Samaritano) para que regularizasse a documentação, se esse fosse o desejo da O.S.C, até o dia 21, porque é um novo termo de fomento, um novo contrato e tem todo um trâmite para que os repasses fossem liberados”, comentou.
Não é uma negativa da Prefeitura Municipal, é falta de planejamento da O.S.C, que essa verba não chegou em tempo hábil
De acordo com Gurka, o processo precisou ser encaminhado para a controladoria interna da prefeita e um projeto foi elaborado para aprovação no poder legislativo municipal.
“Hoje acontece o que! Eles (diretoria do Lar Bom Samaritano) não protocolaram em tempo hábil. Ai então deu todo esse transtorno. Não é uma negativa da Prefeitura Municipal, é falta de planejamento da O.S.C, que essa verba não chegou em tempo hábil”, argumentou a Secretária.
Já na manhã dessa quinta-feira (31), a Secretária da casa de acolhida, Kelly Piccini, rebateu o posicionamento do poder público. Piccini confirma que a direção da ONG recebeu a notificação e em seguida apresentou defesa em favor da casa “fizemos o protocolo do nosso plano de ação. Dirigimo-nos até a prefeitura e a resposta que obtivemos é de que deveríamos mudar nosso estatuto. Ok, a gente vai mudar nosso plano de ação conforme eles (poder público exige), porém o estatuto precisa de um tempo para mudar ele. Fizemos um edital e no dia 20 de fevereiro vamos mudar o estatuto”, comentou. Na oportunidade será realizada eleição para escolha da nova diretoria.
“O nosso plano de ação foi apresentado e eles (poder público) não aceitaram. Toda vez é uma vírgula diferente que tem que colocar. Toda vez a frase muda. A gente está falando de questão humanitária, não podemos viver em cima de burocracia. Ok se a lei exige, vamos cumprir, mas essa questão do lar é uma questão de humanidade. A falta de sensibilidade? Eu não sei quem responde por isso. Mas a falta de sensibilidade atrapalha a questão da humanidade”, desabafou emocionada Kelly Piccini.
A casa atendeu até essa semana, 25 pessoas em trânsito no município de Lucas do Rio Verde, ou seja, que não tem lugar para ficar e precisa de um abrigo temporário enquanto se encaixa em um trabalho e consiga uma moradia.
“Fechamos a casa, não vamos receber mais ninguém. As pessoas que estavam aqui não têm para onde ir. Pra onde que elas vão? Na praça? Vão na frente das lojas? Se Lucas não tinha moradores de rua, agora vocês vão ver que têm”, finalizou Piccini.