Escala 6×1: Entenda por que 65% dos Brasileiros apoiam a redução da jornada de trabalho

Fonte: CenárioMT

Carteira de trabalho digital.
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Pesquisa da Nexus revela apoio majoritário à redução da carga horária. Especialistas analisam impactos nos setores de Comércio, Serviços e Indústria.

A redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais é defendida por 65% dos brasileiros, segundo uma pesquisa realizada pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados. O levantamento também aponta que 27% são contrários à alteração, enquanto o restante não se posicionou ou não soube opinar.

Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, destaca que os resultados refletem um entendimento geral de que a chamada escala 6×1 (trabalhar seis dias por semana com um dia de folga) não é vista como positiva pela maioria da população. “Essa discussão no Congresso Nacional tem grande relevância para a sociedade. Embora a análise política e econômica seja complexa, em termos de opinião pública, há um forte apoio ao projeto”, avalia.

Entre os trabalhadores ativos — tanto no mercado formal quanto informal —, o apoio à redução da jornada chega a 66%. Já entre os desempregados, o percentual sobe para 73%, indicando expectativas de que a medida possa gerar mais oportunidades no mercado de trabalho.

Jovens lideram apoio à redução

O apoio à mudança é ainda maior entre os jovens de 16 a 24 anos, com 76% favoráveis à redução da carga horária. Conforme a faixa etária avança, o índice diminui gradualmente:

  • De 25 a 40 anos: 69%
  • De 42 a 59 anos: 63%
  • 60 anos ou mais: 54%

Tokarski explica que esse recorte está ligado ao perfil de cada geração. Os jovens tendem a valorizar mais o tempo livre para atividades como lazer, estudo e desenvolvimento pessoal. Além disso, há a expectativa de que uma menor carga horária possa abrir espaço para novas contratações, beneficiando aqueles que estão fora do mercado de trabalho.

Impactos da Escala 6×1: Setores mais afetados

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a redução da jornada de trabalho segue em debate no Congresso Nacional. No entanto, especialistas alertam sobre os impactos dessa medida em setores específicos da economia.

Thiago Baptista de Oliveira, advogado especialista em Direito do Trabalho, afirma que as áreas mais impactadas seriam o Comércio e os Serviços, incluindo hotéis, bares e restaurantes. Segundo ele, os empregadores enfrentariam desafios significativos, como:

  • Aumento dos custos operacionais, especialmente para pequenas e médias empresas;
  • Pressão para manter o mesmo nível de produção e serviços;
  • Necessidade de contratar mais trabalhadores para compensar a redução da jornada;
  • Elevação das despesas permanentes.

Um estudo divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) aponta que a redução da jornada para 36 horas semanais pode custar até R$ 115,9 bilhões por ano ao setor industrial. Segmentos como a Extração de Petróleo e Gás Natural poderiam sofrer aumentos de até 19,3% nos custos com pessoal.

Outra análise, conduzida pelo FGV Ibre, revela que a economia brasileira poderia perder 2,6% da renda total com uma redução para 40 horas semanais. Se a jornada cair para 36 horas, a perda aumentaria para 7,4%.

O risco da pejotização

Washington Barbosa, mestre em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas, alerta para outro possível efeito colateral da medida: o aumento da pejotização. Nesse cenário, empregadores podem optar por contratar trabalhadores como pessoas jurídicas (PJs) para evitar os encargos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

“Ao fugir da CLT, o empregador elimina direitos fundamentais, como FGTS, férias e aviso prévio. Além disso, o trabalhador pode ser obrigado a aceitar jornadas ainda mais longas, sem qualquer proteção legal”, explica Barbosa.

Vale lembrar que a CLT já estabelece um limite máximo de 44 horas semanais, com descanso mínimo de 24 horas consecutivas. A legislação também permite certas flexibilizações, como escalas alternativas e pagamento por hora.

Graduado em Jornalismo pelo Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo): Base sólida em teoria e prática jornalística, com foco em ética, rigor e apuração aprofundada.