Racismo religioso expõe escalada de ataques contra terreiros no país

Pesquisa nacional revela a dimensão das agressões e ameaças sofridas por comunidades de matriz africana em diferentes estados brasileiros.

Fonte: CenárioMT

Racismo religioso expõe escalada de ataques contra terreiros no país
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Casos recentes em cidades como Aracaju e São Paulo voltaram a evidenciar o avanço do racismo religioso no Brasil. Em Aracaju, o terreiro Ìlé Àṣé Ìyá Ọṣún foi invadido e depredado, com objetos furtados e itens sagrados destruídos. Já na capital paulista, um desenho infantil representando a orixá Iansã levou policiais armados a intimidarem a direção de uma escola pública.

O fenômeno, ainda pouco mensurado, ganhou novos contornos com a pesquisa Respeite o meu terreiro, realizada em 2025. O levantamento, baseado nas respostas de integrantes de 511 casas religiosas, aponta que 80% dos terreiros sofreram racismo religioso nos últimos dois anos, com registros de xingamentos, agressões verbais, ataques diretos e abordagens policiais discriminatórias.

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Além disso, 76% das casas foram alvo de algum tipo de violência, incluindo depredações e ameaças. O ambiente digital também se tornou espaço de abuso: 52% relataram episódios de assédio ou racismo religioso em plataformas online.

Apenas uma pequena parcela conseguiu registrar ocorrência policial, com menos de três em cada dez terreiros formalizando denúncias. A pesquisa foi idealizada pela Renafro e pelo Ilê Omolu Oxum, em parceria com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, sendo apresentada em reunião da ONU, na Suíça.

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Mãe Nilce, responsável pelo estudo, ressalta que invasões, destruições e perseguições continuam a atingir lideranças e fiéis de religiões de matriz africana. Para ela, grupos religiosos — em alguns casos associados a milícias e ao narcotráfico — têm intensificado campanhas de violência e intimidação.

Os pesquisadores defendem a ampliação de políticas públicas e maior conscientização social para garantir direitos e fortalecer formas de resistência. Esta é a segunda edição do estudo, previsto para ocorrer a cada dois anos, com o objetivo de mapear agressões e destacar estratégias de proteção às comunidades.

No Brasil, o racismo religioso é crime, com pena de dois a cinco anos de prisão ou multa. Casos podem ser denunciados à Polícia Militar pelo 190. Também é possível registrar o boletim de ocorrência em delegacias ou por meio do Disque 100, que recebe denúncias de forma gratuita e anônima.

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Graduado em Jornalismo pelo Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo): Base sólida em teoria e prática jornalística, com foco em ética, rigor e apuração aprofundada. Envie suas sugestões para o email: [email protected]