Efeito Flávio Bolsonaro reacende volatilidade nos mercados e amplia clima de cautela no câmbio

Movimento que começou na última sexta-feira volta a ganhar força nesta terça-feira, 9 de dezembro, com investidores reposicionando estratégias diante de um cenário eleitoral mais incerto

Fonte: da Redação

Pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro gera turbulência política
Flávio Bolsonaro - Imagem de Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pré-candidatura do senador gera turbulência política, mas não deve interferir na decisão do Banco Central sobre a Selic.

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República, que passou a circular com mais força no fim da semana passada, provocou uma onda imediata de ajustes no mercado financeiro. Desde então, o dólar voltou a subir de maneira consistente, aproximando-se dos R$ 5,47 e reforçando o apetite por proteção. O clima de cautela também se refletiu na B3, que registrou queda dos principais índices e saída de capital estrangeiro ao longo dos últimos dias.

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A movimentação, segundo analistas consultados ao longo desta terça-feira (9 de dezembro), reflete sobretudo o aumento de incerteza no campo da direita, onde Flávio Bolsonaro passa a dividir espaço com nomes como Tarcísio de Freitas — até então tratado como uma alternativa mais clara e competitiva para enfrentar Lula em 2026. A possibilidade de fragmentação entre centro e direita é vista como fator relevante para explicar o nervosismo dos investidores.

Por que o dólar reagiu tão rapidamente?

Nos mercados emergentes, sinais políticos costumam ter impacto direto no fluxo financeiro. A simples entrada de um novo pré-candidato com potencial de alterar a correlação de forças já é suficiente para provocar reposicionamentos significativos. No caso brasileiro, o temor de uma dispersão de candidaturas que fortaleça a reeleição de Lula aparece no centro das avaliações — especialmente em um contexto de preocupações fiscais, com déficit elevado e trajetória de dívida pressionada.

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Essa combinação torna a política um catalisador imediato de volatilidade. E, segundo agentes consultados, o comportamento do câmbio nas últimas sessões foi mais um reflexo desse ambiente do que de mudanças estruturais no cenário macroeconômico.

Decisão do Banco Central: efeito limitado

Apesar da sensibilidade do mercado, o episódio envolvendo Flávio Bolsonaro não deve alterar a lógica de curto prazo do Banco Central. A prática do Comitê de Política Monetária (Copom) é considerar médias de períodos mais amplos — geralmente os últimos dez dias úteis — para evitar que ruídos momentâneos influenciem o rumo da Selic. Esse cálculo colocaria o dólar mais próximo de R$ 5,40, suavizando o impacto da disparada recente.

Assim, a tendência dominante entre economistas é de que a reunião de janeiro mantenha o foco na calibragem das expectativas de inflação, antes de qualquer discussão mais profunda sobre cortes adicionais na taxa de juros. A autoridade monetária ainda observa atentamente a deterioração das projeções fiscais e o comportamento do consumo doméstico.

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Eleição, fluxo global e tensão doméstica

A reação ao avanço da pré-candidatura ocorre em um momento em que o fluxo internacional já estava mais seletivo. Com os juros nos Estados Unidos ainda elevados — ainda que em trajetória de queda gradual — países emergentes enfrentam maior dificuldade para atrair investimentos. Esse ambiente deixa o Brasil particularmente vulnerável a qualquer ruído político significativo.

Especialistas destacam que a volatilidade tende a persistir enquanto o quadro eleitoral não ganhar mais nitidez. A busca por proteção, segundo eles, continuará sendo uma marca dos próximos meses, alimentando oscilações no câmbio e na bolsa sempre que novas informações surgirem.

O que esperar daqui para frente

A instabilidade atual reforça que o mercado seguirá testando cenários à medida que a corrida presidencial de 2026 se desenha. A cada novo movimento de atores políticos relevantes, investidores devem reavaliar riscos, ajustar posições e recalibrar projeções. O comportamento recente, afirmam analistas, é apenas um primeiro capítulo de um processo que tende a se intensificar ao longo do próximo ano.

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O chamado “efeito Flávio Bolsonaro” expôs novamente a forte sensibilidade do mercado à política em um ambiente global ainda restritivo. Embora relevante, a turbulência não deve interferir de imediato nas decisões técnicas do Banco Central, que continuará guiado por métricas de médio prazo. Até que as candidaturas se consolidem, porém, o câmbio deve seguir reagindo a cada novo sinal vindo de Brasília.

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