Um estudo que combina análise humana e algoritmo de IA revelou que a Câmara dos Deputados mantém baixo engajamento em iniciativas voltadas à igualdade racial, após examinar a atuação de 571 parlamentares.
O Ranking Igualdade Racial 2025 avaliou cerca de 37 mil ações legislativas, incluindo votos, discursos, pareceres e emendas. Segundo a coordenadora de Advocacy do Instituto de Referência Negra Peregum, Ingrid Sampaio, as pontuações despencam após os 50 primeiros colocados, evidenciando um envolvimento restrito ao topo da lista.
“A partir daí, a atribuição de notas cai abruptamente para três. É uma queda muito brusca, o que mostra algum engajamento inicial, mas revela que poucos parlamentares precisam compensar a falta de empenho dos demais”, afirmou.
Notas
A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Peregum em parceria com a Fundação Tide Setubal, utilizou um algoritmo do Observatório do Legislativo Brasileiro para estabelecer notas que variam de -10 a +10, conforme o impacto das iniciativas na população negra.
Para Ingrid Sampaio, a baixa adesão decorre do desconforto político em lidar com a temática racial. Ela aponta que o tema costuma avançar lentamente no Congresso.
Historicamente, movimentos negros defendem políticas para reduzir desigualdades entre pessoas negras e brancas no país. Estudos recentes reforçam que essa disparidade permanece significativa.
A lista do Ranking Igualdade Racial 2025 destaca os parlamentares com melhor e pior desempenho, e os mais bem avaliados serão premiados durante evento em Brasília.
O levantamento também recebeu contribuições do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa da UERJ.
Direita e esquerda
As primeiras posições do ranking são majoritariamente ocupadas por parlamentares de centro-esquerda, embora nomes de direita e centro-direita apareçam entre os 50 mais bem colocados.
Ingrid Sampaio enfatiza que, apesar de a pauta ser historicamente associada à esquerda, há parlamentares de outros espectros que vêm contribuindo para o tema, muitas vezes contrariando as orientações de suas bancadas.
“Os partidos de esquerda são mais engajados, mas há dissidências no centro e centro-direita. Em alguns casos, os parlamentares têm liberdade para atuar segundo interesses locais ou experiências próprias”, afirmou.
Parlamentares negros
A pesquisa mostra que parlamentares negros, mulheres e indígenas são os que mais impulsionam propostas voltadas à igualdade racial, participando ativamente de votações e debates.
O estudo destaca que, mesmo representando apenas 20% da Câmara, as mulheres ocupam grande parte das primeiras posições do ranking, refletindo a importância da diversidade nas formulações legislativas.
Para Ingrid Sampaio, a presença de mulheres e pessoas não brancas no Congresso fortalece a pauta e melhora a qualidade das discussões.
“Os dados comprovam que representatividade influencia diretamente na elaboração de políticas públicas e qualifica o debate necessário à sociedade”, afirmou.





















