A produção de carne suína em Mato Grosso segue em crescimento, alavancada pela forte demanda internacional e por um mercado interno aquecido. No entanto, desafios estruturais colocam em risco a sustentabilidade do setor a médio e longo prazo. Essa é a principal conclusão do Diagnóstico da Suinocultura em Granjas Mato-Grossenses, estudo inédito realizado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) em parceria com a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat).
No cenário nacional, o Brasil ocupa a quarta posição entre os maiores produtores e exportadores de carne suína do mundo, com estimativa de alcançar 5,45 milhões de toneladas em 2025, conforme a Conab. Mato Grosso aparece como o 6º maior produtor do país, respondendo por 4,78% da produção nacional com 125,51 mil toneladas entre janeiro e agosto de 2024. A estrutura de abate no estado é composta por nove frigoríficos com inspeção federal e estadual, e o setor emprega mais de 10 mil pessoas diretamente.
Apesar dos números positivos, o perfil dos produtores revela um risco de estagnação: 75,9% têm mais de 50 anos, com idade média de 56 anos, o que levanta um alerta quanto à sucessão familiar. De acordo com a pesquisa, há um risco real de descontinuidade nas propriedades familiares. Para a Acrimat, é preciso atrair jovens com políticas de sucessão rural e capacitação. Por outro lado, o alto nível de escolaridade surpreende: 43,37% têm ensino superior completo e 8,43% possuem pós-graduação, evidenciando um setor cada vez mais profissionalizado.
As granjas variam bastante em tamanho, indo de 2 a mais de 10 mil hectares, mas a mediana é de 500 hectares. Enquanto as pequenas propriedades (até 50 ha) destinam 36,83% da área à suinocultura, nas grandes fazendas (acima de mil ha), esse percentual cai para cerca de 5%. Quanto ao sistema produtivo, 38,55% operam como Unidades de Terminação, 32,53% em Ciclo Completo, e 28,92% como Unidades de Produção de Leitões. A genética animal é dominada pelas linhagens da BRF (Sadia) e da Agroceres PIC.
Entre os principais desafios enfrentados pelo setor, estão o acesso ao crédito, os altos custos de produção e a burocracia ambiental. Mais da metade dos produtores (57,31%) considera difícil conseguir financiamento, e 43,37% sequer buscaram crédito, muitas vezes por falta de informação. A alimentação animal, que pode representar até 70% dos custos, tem sido amenizada com o preparo da ração nas próprias propriedades, prática adotada por 42,17% dos entrevistados.
No campo ambiental, 83,13% das granjas possuem licenciamento, mas quase 17% ainda aguardam aprovação, criticando a lentidão nos processos. Já no quesito sustentabilidade, o setor mostra avanços: 87,80% adotam a compostagem para descarte de animais mortos, e 68,67% utilizam biodigestores, gerando biogás e fertilizantes.
Em relação ao futuro, 66,27% dos produtores pretendem manter os níveis atuais de produção, 25,30% planejam expandir com investimentos em tecnologia, e 6,02% consideram sair da atividade, especialmente os pequenos independentes, pressionados pelos custos elevados e margens reduzidas.
Para a Acrismat, a superação desses obstáculos depende de políticas públicas eficazes, acesso facilitado a crédito, programas de capacitação técnica e incentivo ao cooperativismo, inspirado em modelos bem-sucedidos como o de Santa Catarina. A suinocultura mato-grossense tem margem para crescer, mas precisa de estrutura, inovação e renovação geracional para se manter competitiva nos próximos anos.